segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Criação e cuidados

Criação do cavalo atleta


Este artigo será publicado em três partes. A primeira aborda “Da cobertura ao parto”; a segunda,que será publicada na próxima edição, tratará “Do nascimento ao desmame”, terminando com “Do desmame à doma”

Parte 1: Da cobertura ao parto

Devido ao constante progresso das associações de criadores de cavalos e ao alto nível competitivo e comercial impostos, o cavalo tem se transformado num atleta, tendo seu desempenho exigido ao máximo. Face a esta realidade, fez-se necessário o desenvolvimento do profissional técnico na mesma proporção, apto a suprir as necessidades dos criadores e proprietários dos cavalos que participam de provas. Podem se incluir aqui a criação e reprodução eqüinas, sendo estas áreas de grande importância dentro de uma propriedade. Os resultados competitivos têm início onde a base dos atletas a serem criados deverá ser sólida.

Garanhão




A fim de facilitar o manejo durante a estação de monta, é necessário programar a utilização do garanhão quanto ao número de éguas a serem cobertas e o tipo de cobertura a ser realizada, ou seja, monta natural ou inseminação artificial, e nesta, sêmen fresco, resfriado ou congelado. Para que isto ocorra terão de se realizar exames físicos e andrológicos antes do início da temporada. Estes “exames de outono” são úteis para identificar a capacidade reprodutiva do animal, e assim selecionar o melhor método de cobertura a ser utilizado.

Em haras onde o manejo reprodutivo é intenso, esse exame poderá ser realizado mensalmente, com o objetivo de se estabelecer uma curva anual baseada na concentração espermática, propiciando assim excelente controle do sêmen e antecipando alterações bruscas na taxa de fertilidade.

Alguns cuidados no manejo deverão também ser tomados antes do início da atividade reprodutiva. Entre os mais importantes, se destacam a manutenção de um estado corporal atlético, pronto para coberturas diárias; evitar vacinas que possam causar febre, pois se refletirá negativamente durante a temporada e manter uma rotina diária durante a estação de monta, condicionando assim o animal e evitando qualquer tipo de estresse.

Quanto à alimentação, deve-se evitar mudanças na qualidade e quantidade da ração a ser ministrada. Poderão ser utilizados, nesse período, precursores de ácidos graxos (gorduras) polinsaturados para aumentar em até 1,5 a concentração espermática e a qualidade do sêmen congelado, prática que está sendo bastante difundida.

Éguas




O foco da reprodução está na taxa de concepção das reprodutoras. O resultado final da temporada de monta acontece sempre no ano seguinte, com o nascimento do potro. Essa sim é a real taxa de aproveitamento reprodutivo. No entanto, vários fatores influenciam nesse índice e o sucesso depende da perícia com que são manejados.

Entre os fatores que diretamente determinam a eficiência repro­dutiva das éguas, estão o estado corporal, tipo de alimentação, idade, condição reprodutiva (vazia, virgem ou parida), tipo de cobertura a ser empregada e a presença de infecções.

A reprodutora deverá estar saudável para a concepção, isto é, ter um estado corporal atlético compatível com a idade, alimentação balanceada, estar ciclando corretamente e possuir sanidade reprodutiva, ou seja, sem problemas físicos e infecciosos no trato reprodutivo.

Levando em consideração a cobertura, as afecções poderão ser divididas em: pré-cobertura (anestro, endometrite, cistos uterinos, falha em mostrar cio, problemas físicos) e pós-cobertura (endometrite – inflamação da mucosa uterina pós-cobertura, falha na ovulação, morte embrionária precoce, aborto e distocia – parto difícil).

Estes problemas poderão ser atenuados com o uso de algumas práticas como:

• exames ginecológicos realizados nas éguas vazias antes da temporada, detectando anormalidades e sua pronta resolução antes do inicio da estação;

• programas de luz artificial, inclusive para éguas em anestro pós-parto, ajudando na atividade ovariana;

• uso de rufião na propriedade;

• escolha correta das éguas que deverão ser cobertas no cio de potro, evitando assim contaminações uterinas;

• determinação do tipo de cobertura mais apropriado para as éguas problemáticas e idosas;

• manutenção de programa nutricional adequado para cada fase gestacional;

• acompanhamento veterinário mensal da égua prenha.

Todos estes fatores se aplicam também à prática da transferência de embriões, onde a sanidade, tanto da doadora, como da receptora, resulta em melhor qualidade e maiores taxas dos embriões coletados e sua conseqüente concepção.

Atualmente, a profilaxia é a prática de maior atenção nos eqüinos. Um programa de vacinação correto de um plantel vitará surtos infecciosos e conseqüentes abortos. O uso de imuno-estimulantes uterinos evita não só endometrites inconvenientes como também algumas placentites (infecção da placenta) e a vermifugação deverá ser levada em consideração, já que alguns parasitas passam da mãe para o produto.

O importante é estabelecer um ambiente saudável na propriedade, priorizando a convivência com a flora existente e não a sua modificação ou total degradação.

Outro fator que poderá levar a alterações no manejo da reprodutora é a determinação do sexo do feto, realizada entre 60 e 70 dias de gestação. Isso possibilitará aos criadores tomarem decisões em relação ao objetivo comercial da égua e do futuro produto, local de parto e escolha de garanhão.

Quanto ao parto, a égua deverá ser preparada um mês antes e ser planejado de que forma se dará, dentro ou fora da cocheira, com intervenção humana ou não. De qualquer forma, é importante que seja assistido, pois dessa maneira poderão ser evitadas várias complicações, como lacerações (rupturas) nas éguas e asfixia dos recém-nascidos, bem como evitar acidentes entre a nova unidade égua-potro.



















Conselhos do autor

1. Os garanhões devem estar em bom estado nutricional, prontos para a temporada. Caso isto não seja possível, é preferível que estejam um pouco acima do peso do que abaixo. O ideal seria trabalhar os animais antes da estação, para adquirirem bom condicionamento físico e boa libido.
2. Condicionar os garanhões previamente quanto ao tipo de cobertura, ou seja, monta natural ou coleta de sêmen e, essa última, em égua cavalete ou em manequim. Tentar não misturar as práticas durante a mesma temporada.
3. A quantidade de ração a ser fornecida às éguas prenhas não deverá ser diferente das demais até o último trimestre, onde então deverá ser aumentada a quantidade em até 1,4 vez. O consumo de água nesta altura também é importante e deverá ser oferecida à vontade, evitando assim problemas como desidratação e cólicas.
4. A parição não deixa de ser uma atividade atlética. Manter as éguas a campo é um bom exercício, pois permite liberdade de movimentos e melhor oxigenação tecidual.
5. Devido aos embriões eqüinos serem mais frágeis do que outras espécies, especialmente antes dos 30 dias de gestação, tentar evitar causas de estresse que levem a um desequilíbrio hormonal uterino com conseqüente morte embrionária.
6. A vacinação e vermifugação são práticas sanitárias seguras de serem utilizadas nas éguas prenhas sem problemas maiores.
7. Assistir aos partos auxiliará no reconhecimento precoce de futuros problemas com a égua e o potro, sendo fator determinante para a sobrevida de ambos.

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